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O Efeito da Graduação na Vida Pessoal

É mais de meia noite. Esse texto é um desabafo, um grito de socorro em meio a tantas obrigações.
Não é novidade eu faço um curso de engenharia numa faculdade estadual, e acredite, não falo isso feliz como falei quando passei no vestibular e queria anunciar aos sete ventos minha conquista. Falo isso para começar a narrar a triste vida que levamos. Não posso falar por aquilo que não vivo, então estou aqui falando apenas por mim, na minha situação, na minha pele. Se alguém discorda, que bom. Se alguém concorda, sinceramente lamento, pois a situação não está boa.
Sei que existem muitas pessoas pelo mundão que estão em situações piores, e pessoas que dariam tudo para estar no meu lugar. Mas, pera aí, isso não é uma competição sobre quem está mais a fundo no poço da vida. É sempre importante refletir e fazer críticas a fim de que as coisas melhorem, ao invés de ficarmos inertes assistindo as coisas como elas são, como se tudo estivesse na sua mais perfeita ordem, quando na verdade, as coisas estão bem ruins.
Vamos lá. Sou assumidamente feminista e me interesso por diversos assuntos que envolvem não só a luta das mulheres, como assuntos de política (eu sei que feminismo envolve política, e que as coisas são interligadas, mas vamos facilitar o diálogo), causa LGBT, e até as pautas da luta contra o racismo (mesmo que eu não pertença a essa minoria) me interessam. Eu gosto de ler artigos e livros, assistir a documentários e séries, escrever textos etc. Eu gosto de viver, ter identidade, ser além da minha vida acadêmica, ser HUMANA.
A queixa que me cabe é não conseguir conciliar a minha vida pessoal com o meu desempenho satisfatório na universidade. Este semestre, bem como o último, temos 30 créditos semanais, o que significa 30 horas de aulas. Fora as atividades extracurriculares como iniciação científica e afins. Cada disciplina tem duas ou três provas no semestre, e algumas ainda tem seminários (nada mal né?), outras têm relatórios semanais e mais atividades semanais valendo nota. Parece muito simples seguir o algoritmo do sucesso para obter um bom rendimento escolar e ser feliz, mas na prática, quando você precisa suprir as demandas fisiológicas e cumprir todas suas tarefas acadêmicas, você percebe que sua força de vontade se tornou inútil. A cada segunda-feira, sua missão é simplesmente dar conta de tudo da faculdade, tendo (com sorte) dormido de sete a oito horas por noite, tomado banho todos os dias e ter tido refeições minimamente saudáveis. 
Ao longo das semanas letivas, você já nem se admira de não ter tido tempo para ver um filme, ou sair com os amigos. E se você sai? Sua cabeça geralmente permeia a lista mental de relatórios e provas. É difícil querer um rendimento satisfatório e ter plena paz quando se resolve relaxar. Não é vitimismo dizer que vivemos um terror psicológico constante. 
É claro que existem pessoas que lidam facilmente com todas as cobranças e têm uma vida social bacana. Mas eu não sou um gênio, me considero dentro da normalidade, na média.
O que mais me fere atualmente, é não ter tempo de ser engajada naquilo que me move. O momento mais libertador da minha vida foi quando conheci e abracei o feminismo. E hoje, eu sequer paro para ler as principais notícias que envolvem a causa. Eu não estou satisfeita como a feminista que sou e não estou satisfeita como a engenheira química que estou tentando ser. 
O conhecimento científico da área que escolhi pode alimentar a minha mente, mas não é isso que alimenta minha alma. Eu não acho justo que minha alma morra de fome em prol da loucura a que estou sendo acostumada a viver. E o sentimento que tenho é que existe uma jaula entre mim e o mundo, que não é possível alcançar aquilo que me faz bem porque estou sempre ocupada com as coisas que preciso ao invés das coisas que quero fazer.
Que tipo de vida é essa?
Não é raro encontrar quem já tenha deixado de tomar banho porque precisava estudar para uma prova. E se confortar à alguém, já aconteceu comigo, e eu sei que não fui a única. Ficar com o cabelo sujo em semana de prova, comer miojo, pão ou o que tiver pela frente não é difícil acontecer. Limpar a casa em mês de prova é um luxo sem tamanho, bem como cozinhar exemplarmente. Veja que não só a saúde mental, como a saúde física ficam comprometidas facilmente em meio a essa rotina infernal.
Está tudo bem. Afinal, como dizem certos professores "vocês só fazem a minha matéria". Aluno não tem família, não tem problemas pessoais, não tem dificuldade, não tem que dormir, comer, tomar banho e descansar. Aluno é robô, e se você não estiver bem programado, o errado é você que não se dedicou e não tem força de vontade. Não deu tempo, por quê? O que você faz da meia noite às seis? "Você tem que se acostumar com o ritmo, engenharia é assim". "Vocês estão reclamando demais, sempre foi assim, sempre deram conta".
Seria extremamente prazeroso continuar esse meu lapso de ser humana, mas como já disse na primeira linha deste texto, é madrugada e amanhã lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer. Reinstalar o sistema.

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