Estava conversando com meu pai esses dias sobre violência. Segundo ele, e vários outros adultos ou idosos, vivemos tempos mais perigosos, tempos de mais ódio e mais violência.
Eu não duvido que seja verdade que tenha havido aumento da criminalidade, até mesmo porque existem várias justificativas para esse fenômeno. Mas o ponto em que pretendo chegar não se relaciona exatamente a criminalidade como roubo ou assalto a mão armada.
Na conversa meu pai falou que devido aos casos de terrorismo que têm chegado até mesmo ao Brasil, não é mais possível ter paz e segurança.
Tá, e dai?
Podem me chamar de Drama Queen, ou o que seja, mas esse medo não é nada comparado ao nosso medo constante dos homens. Vejo meu pai e outras pessoas chocadas e apavoradas por causa das notícias de atentados, mas sabe, isso não me abala. Eu sei que a chance de eu sair na rua sozinha a noite e não voltar é maior do que a chance de morrer por um atentado terrorista.
E quanto ao terror que vivem os LGBTs? Lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais morrem todos os dias por preconceito. O preconceito que mata mais do que qualquer um desses atentados. O problema é diário, o terror é constante, mas aparentemente não é importante o suficiente para que haja uma força-tarefa que previna mais vítimas do ódio. Até mesmo porque sabemos que o ódio que mata tantos é regado e justificado pela religião. O estado é "laico" mas a sentença é dada pela igreja, e neste caso é a pena de morte. LGBTs são espancados, perseguidos, abandonados, expulsos de casa e humilhados. Existe terror maior do que não poder amar?
Infelizmente, os números alarmantes de estupros e mortes de mulheres também não são suficientes para comover a sociedade ao ponto de medidas efetivas serem tomadas pelos órgãos competentes. Talvez, se os homens (cis, brancos e héteros) morressem da mesma forma que mulheres, LGBTs e negros todos os dias, o Brasil fosse diferente. Até mesmo mais seguro.
Em todos os tipo de violência, as mulheres são os alvos mais fáceis. Assaltos no trânsito, em pontos de ônibus, na rua e até dentro de casa. Nós somos mais visadas, mais atacadas e mais esquecidas.
Eu sempre vivi o terrorismo. Eu e todas as outras mulheres que já tiveram medo de andar sozinha a noite, que já tiveram medo de usar uma roupa, que já ouviram cantadas ofensivas, que já foram tocadas sem que quisessem no transporte público, que já foram expostas na internet ou tantas outras formas de terror que vivenciamos todos os dias.
Na cidade em que estudo e consequentemente moro, Araraquara, uma jovem da minha idade (19 anos), que estava num ponto de ônibus, sofreu um estupro coletivo. Três homens estupraram uma garota e até mesmo a violentaram com um pedaço de cana.
Por quanto tempo essa garota vai ser lembrada até que venha um novo caso? Aparentemente, isso tornou-se normal. "Ela é só mais uma". E quem vai ser a próxima? Eu? Você? Sua irmã/mãe/namorada?
Quem se preocupa com atentado terrorista agora não sabe o que é enxergar em todo homem um homem-bomba.
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