O sexo não
é para a mulher!
É engraçado me perguntar (sendo mulher) quando foi que me
senti confortável perante as outras pessoas (até mesmo amigos ou familiares)
para falar sobre minha sexualidade.
Desde jovens, os rapazes têm, em geral, um espaço já
conquistado para falar sobre masturbação, vídeo pornô, sexo e etc. Já as
“mocinhas” crescem, geralmente, sendo afastadas de assuntos dessa natureza. De
uma forma até mesmo sutil, somos levadas a achar feio e nojento o ato de se
tocar por prazer, assistir ou ouvir falar de sexo.
Desde pequenas ouvimos os adultos associarem sexo a casamento
e assistimos nossos pais fazerem careta ao imaginar que um dia perderemos a
virgindade. Não recebemos parabéns ao dar o primeiro beijo, muito menos ao
transarmos pela primeira vez. Em muitos casos, é mais provável que a garota
leve uma bronca do que seja recebida com carinho por iniciar uma fase diferente
em sua vida. Por outro lado, os garotos recebem sorrisos e piadas que os fazem
sentir verdadeiros garanhões e predadores.
A cultura que nos nega o ato natural de transar nos retrai de
tal maneira que faz com que várias de nós neguem a si mesmas o direito de
sentir prazer. Sem sequer entrar em quesito religioso sobre pecado e afins, o
peso dos julgamentos a nossa volta, dos olhares de dominação sobre o que
devemos ou não fazer com nossos corpos e da vergonha social que nos foi
imposta, tudo isso, acaba fazendo com que várias garotas construam um muro que
as proteja do termo SEXO.
O problema dessa proteção descabida é maior do que aparenta.
Ao deixar de se conhecer e experimentar essas sensações, as jovens perdem a
chance de poder escolher o que querem, saberem do que gostam, como gostam e se
realmente gostam. Impor um único homem que as toque (o marido) é roubar a
chance dessas mulheres de conhecer seus prazeres plenamente e escolher um homem
que realmente a satisfaça. Além disso, é roubar momentos de prazer que essas
mulheres poderiam ter vivido se não negassem a si mesmas o direito de tê-lo.
O muro que foi construído para preservar sua “pureza” termina
ainda por machucar as jovens que acabam tendo de ser convencidas a transar. A virgindade se tornou algo tão precioso
dentro de suas convicções que ao “perdê-la”, a garota realmente está convencida
de que perdeu alguma coisa. E mais, ela está convencida de que sua maior
preciosidade agora é o homem a quem “deu” sua pureza. Toda essa mistificação
sobre sexo leva diversas jovens a criarem uma forte relação de dependência com
seus “parceiros”, levando muitas delas a depressão quando há um término. Ou
ainda, faz com que muitas delas aceitem viver em condições hostis, com
parceiros que não as respeitam ou até mesmo violentam.
O sexo sempre foi negado às mulheres. O sexo sempre foi um
monstro horrível, e as mulheres que faziam precisavam esconder, enquanto as que
não faziam tinham que sufocar seus desejos.
E quando as mulheres finalmente superam o tabu de perder a
virgindade e experimentar os prazeres de seu corpo, eis que nos negam novamente
o direito ao sexo. Àquelas que demonstram gostar do ato, que tomam a iniciativa
ou que mostram seus corpos é dado o nome de “puta”. Afinal de contas, o sexo é
feito PARA O PRAZER DO HOMEM e é ele quem deve querer e gostar.
A nudez feminina, também grande pecado, faz com que muitas de
nós tenhamos vergonha de nossa genitália. Piadas machistas que desvalorizam
nossa vagina mencionando o odor típico, sua forma e outras características
fazem com que haja mais vergonha ainda em usar de nossa sexualidade. As
cobranças estéticas feitas sobre a depilação feminina e os padrões de beleza
sujeitam as mulheres novamente à vergonha do corpo, e impõe mais dificuldades
(psicológicas) para que possamos nos apropriar do sexo, do prazer e da
liberdade.
Não só nos é negado como também controlado, afinal o sexo não
pertence à mulher. Quando uma de nós nega fazer oral em um homem por nojo, é
tida como fresca, enquanto quase metade dos homens heteros tem nojo de fazer
oral em mulheres. (Link da matéria a respeito) Ainda, se
uma mulher demonstrar gostar da coisa, será tida como uma safada qualquer.
Mulher não pode gostar de sexo. Jamais!
Em pleno século XXI, as mulheres são reféns da sociedade. Se
nos envolvemos com vários homens durante nossa vida, somos “fáceis”,
“piranhas”, “safadas” etc. Se os homens tiveram vários envolvimentos durante a
vida, são “pegadores” e passam a ser mais respeitados pelos amigos. Por que eu
deveria ser “difícil”? O que faz levar um homem a pensar que eu devo negar a
mim mesma o direito de transar?
O que eu ganho com isso? Ah sim, eu ganho um título de
“mulher para casar”! Ainda somos rotuladas, como meros objetos, em “para casar”
e “para curtir”. A lógica dessa divisão está em: mulher boa é mulher que se
nega a transar. É muito cômodo aos homens acreditar que o sexo é algo só para
eles, assim as “esposas” fazem de tudo para satisfazê-los enquanto eles não
precisam se preocupar com o prazer delas.
Somos tratadas como as bonecas infláveis da sociedade. Não
podemos gostar nem gemer, pois seremos “putas”, muito menos nos negar a transar
com nossos “donos”. Eles têm suas “necessidades” e nós temos de servi-los.
Curtam no Face fb.com/diariosemhipocrisia
Curta no botão abaixo.
0 comentários:
Postar um comentário