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A Imagem da Mulher e Orange is the New Black

ATENÇÃO! Pode conter Spoiler.
Bem, é um pouco contraditória a imagem das mulheres perante os conservadores ao longo dos anos. Primeiramente, a mulher é demonizada e culpada pelas desgraças do mundo como Eva (“que comeu o fruto proibido”) e Lilith (chamada de “demônio” e acusada de ser a “serpente” que oferece o fruto à Eva), na cultura cristã.
Em outras culturas, mulheres ocupam posição de deusas. São as responsáveis pela fertilidade do solo, pela abundância das colheitas, reprodução, pela sabedoria, lutas, organização de animais e até a própria origem do mundo.
Aparentemente, hoje vivemos uma certa mistura de imagens. Sempre que alguma questão familiar dá errada a culpa é da mãe, bem como questões amorosas e até mesmo agressões. Quando uma mulher é traída a culpa é dela "que não soube escolher ou ainda segurar o marido", quando a mulher trai a culpa é dela, quando a mulher apanha a culpa é dela "que deve ter dado motivo", quando é estuprada a culpa é dela que "não se deu ao valor", quando a filha é estuprada pelo padrasto a culpa é da mãe que se "juntou com qualquer um", quando o pai agride os filhos a culpa é da mãe "que não estava por perto", quando a mulher engravida ou aborta a culpa também é só dela "que devia ter fechado as pernas".
Existe uma imagem de “incompetência” que insistem em atribuir à mulher. Sempre que algum desses fatos acima acontece, a culpa é da mulher porque esta é incompetente. Mas quando o inverso dessas situações ocorre, não é atribuída a imagem de competência e vitória, é apenas “nada mais que a obrigação” e ninguém comenta. Ressalta-se sempre a "INCOMPETÊNCIA".
Não somente nessas situações alarmantes, mas a incompetência nos é atribuída no dia-a-dia. Quando você tem que trocar uma lâmpada, desmontar algum móvel, pintar uma parede ou trocar uma tomada e as pessoas perguntam “seu namorado/marido não faz isso?”, ou ainda quando associam o gênero à forma como a pessoa dirige, bem como quando dizem que tal profissão é “profissão de homem” (o que acontece não só com profissões que exijam força, mas com profissões de exatas).
Estive reparando na forma como mulheres são diferentemente tratadas com relação à violência. Policiais na rua não costumam me enxergar como uma ameaça, mas olham diferente para o meu namorado que além de ser homem é pardo (fator que influencia no julgamento dos policiais). Na balada, muitas vezes, revistam a fila de homens enquanto a fila de mulheres passa tranquilamente. Cheguei a uma pergunta: por que acham que eu não sou uma ameaça? Aderi a minha hipótese até que encontre uma melhor, mais uma vez não me julgam capaz.
Quando estou na rua sozinha e vejo uma mulher, fico muito mais tranqüila do que quando vejo um homem. Óbvio. Existe uma diferença entre a minha força e a de um homem, mas caso precise me defender de outra mulher, isso se torna mais viável. Sem contar que uma mulher muito dificilmente vai querer abusar sexualmente de mim. Abri esse parêntesis para explicar que são situações diferentes de quando passo pela polícia ou pelo segurança da balada como se eu fosse simplesmente incapaz de carregar uma arma ou assaltar um banco, incapaz de amedrontar.
Bom, há algum tempo terminei de assistir os episódios disponíveis de Orange is the New Black no Netflix. Vi na internet que algumas pessoas criticam a série e até mesmo criaram uma página no Facebook boicotando a série , dizendo que era mal exemplo e blá blá blá.
Por que odiar a série? – me perguntei.
O que eu vejo em OITNB são mulheres acima de tudo fortes. Mulheres que desempenharam os papéis de vilãs tão bem quanto homens e se tornaram criminosas tão perigosas quanto eles. Vi também que a série mostra mulheres se satisfazendo sozinhas, se amando sozinhas e sentindo prazer entre si. Talvez não seja fácil para o ego de um homem aceitar que seu pênis não é o centro do universo feminino (risos). Vi na série mulheres que brigam e se matam com a ira e a força “de um homem” e que não se intimidam por serem do “sexo frágil”. Também vi sororidade entre as mulheres, o carinho e o cuidado de irmãs, mães e filhas. Também conta com a participação de uma mulher trans, que claramente incomoda conversadores. A série também expõe homens abusando de seus poderes, sendo babacas nojetos, bem como corruptos. E a chave da série, que deve incomodar muito homem, são mulheres enfrentando homens.

Ao meu ver, a série é sobre empoderamento feminino. Mulheres que são fortes o bastante para serem criminosas e enfrentarem homens, sem serem demônios por isso. São apenas mulheres reais, e mulheres reais são incrivelmente independentes, competentes e fortes.
 
A personagem trans do seriado contraria os padrões sobre sexualidade e confronta o conservadorismo religioso e preconceituoso. Aliás, para os homens que se consideram tão incríveis e importantes por sua masculinidade, ver um outro homem abrir mão desse "título" para tornar-se mulher, deve ser um "desrespeito" ao sexo masculino. "Onde já se viu deixar de ser um homem para tornar-se esse ser inferior que são as mulheres?" (risos).

Red e Gloria são as "mães" da cadeia. Cuidam das brancas e latinas, visto que a cadeira é relativamente segregada entre etnias. Símbolos de sororidade e força, enfrentam homens e mulheres em suas lutas diárias na cadeia.


Vee se passa por mãe das negras mas, em alguns episódios, mostra que nem toda mulher é boazinha e que seus interesses estão acima de tudo e de todos e ela está disposta a tirar qualquer um de seu caminho. 

Rosa, a latina que roubava bancos e que terminou sua vida lutando não só com a vida na cadeia, mas também com o câncer. Exemplo claro de força física e psicológica, bem como de coragem e independência.

Cena em que Gloria e Vee se enfrentam. Mulheres também sabem brigar quando é preciso. Na cadeia, é preciso saber se impor, e (para a surpresa de alguns homens) mulheres sabem se defender.


Sororidade! Mulheres que se unem e se cuidam como numa família. Uma das maiores ameaças a um homem é ver mulheres unidas, mulheres se apoiando, mulheres se amando. 

Mulheres que se satisfazem. Piper e Alex (ex namoradas) se reencontram na prisão. As duas são a prova de que nem para sentir prazer os homens são realmente necessários. 

O Bigode, policial corrupto que adora coagir as detentas a fazerem o que ele quer. Intimida e abusa de seus poderes para se aproveitar das mulheres. Uma pequena amostra dos abusos que mulheres sofrem diariamente com os homens.

Piper, na solitária, afrontando o diretor da cadeia. O diretor claramente homofóbico, se posiciona rigidamente contra o lesbianismo na cadeia se sentindo no direito de punir as detentas por suas posições sexuais. Mas pera ai, onde já se viu uma mulher gritando com um homem? Que absurdo! (risos).

Enfim, a série é muito mais do que mencionei, com certeza. Vale bastante a pena assistir.

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Feminismo x Feminismo

Bom, o assunto que me leva a escrever hoje é algo delicado e bem polêmico. Espero que eu não seja mal interpretada e que eu escolha as palavras certas para me expressar.
Pois bem, sabemos que o feminismo possui vertentes que são geradas por diferenças nos pontos de vistas das próprias feministas (nós) e que não há problema nenhum nisso, visto que somos unidas por uma semelhança maior que seria uma espécie de "inimigo em comum".
Outra coisa que sabemos muito bem (e não é de agora) é que racismo infelizmente ainda existe em nossa sociedade, o que gera sempre uma visibilidade diferente entre negros e brancos. Não importa o campo a ser observado, negros recebem atenção e significância diferentes de brancos. Quando começamos a analisar as sutilezas dos preconceitos culturais enraizados em nossa sociedade, considero natural que as feministas não reparem apenas no tratamento desigual com mulheres, mas também no tratamento desigual com as demais minorias, inclusive os negros.
Ainda recentemente, estive conversando com meu namorado (pardo) sobre os preconceitos que sofrem os negros e os preconceitos que sofrem as mulheres, e no final, bem como era de se esperar, ele disse "nossa, imagina como a mulher negra sofre!". Pois é, é inegável que a mulher negra está sob duas cargas pesadas de preconceito e isso torna sua luta por visibilidade muito mais árdua. 
Na última postagem, disse que o ENEM que foi tão importante para nós por levar visibilidade ao problema da violência contra a mulher e era esse tipo de espaço que precisávamos para consolidar mais e mais a nossa luta, recebendo credibilidade e suporte contra aqueles que insistem em satirizar nossos argumentos.
Recentemente, estive vendo páginas feministas no facebook e li um texto que falava sobre o "feminismo branco" e usava os termos "feminismo da Jout Jout" e "feminismo da Emma Watson". Eu li aquele texto e não pude discordar de nada, porque era muito plausível. Feministas brancas, ainda que sofrendo por nadarem contra a maré, têm mais oportunidade de ter voz ativa do que feministas negras. Isso é um triste fato. 
Sou branca e não posso fingir entender o que se passa na vida de uma mulher negra (esteja claro). Entendo que, por vezes, a alta popularidade de alguma ação feminista da parte de uma branca acaba criando a falsa impressão de que o feminismo está indo bem, quando na verdade não está. É evidente que negras precisam ter mais voz e representatividade, visto que são mais afetadas que as brancas. Mas por quê isso não acontece? Será que Emma Watson, por ser feminista branca é o problema que impede feministas negras de conquistarem espaço? Eu não acho que seja isso. Emma foi chamada para representar a luta das mulheres e se ela dissesse "não, obrigada", convidariam outra mulher branca para representar, até que achassem alguma que aceitasse.  E o problema é a Emma? Eu realmente não acredito nisso.
Para fechar a ideia, eu tenho sentido que muitas vezes o uso dos termos "feminismo da fulana" gera uma ideia errada de como se o "feminismo branco" fosse inimigo do "feminismo negro". Embora eu entenda perfeitamente a intenção dos termos, eu receio que isso passe a criar uma rivalidade maior entre brancas e negras. Mulheres devem acima de tudo, se apoiar e ajudar. É claro que a conscientização sobre as diferentes realidades é muito importante, só acredito que deve-se tomar cuidado para não mudar o foco sobre quem é o verdadeiro inimigo do feminismo!

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